quinta-feira, abril 29, 2010

DESPIR-SE

PARA TENTAR SALVAR O MUNDO

Enquanto os habitantes do mundo acordam de manhã para mais um dia em busca de sobreviver perante o selvagem sistema econômico constituído caracterizado pelo lucro e propriedade privada dos meios de produção, ainda há aqueles que continuam o árduo trabalho de sensibilizar, alertar e de mostrar a necessidade de um movimento contrário.

Fica por conta dos poetas, dos artistas, dos jovens esse encargo há muitas décadas. Será que ao longo dos anos, enquanto envelhecemos, nos esquecemos que um dia acreditávamos em um mundo melhor?
Ontem, na abertura do evento Semanas de dança – diálogos, Centro Cultural São Paulo, a artista e bailarina Júlia Rocha dirigiu 12 bailarinos no que intitulou Tentativa de Salvar o Mundo.

Tentativa de Salvar o Mundo

Primeira imagem que o público viu ao entrar no corredor do
Espaço Cênico Ademar Guerra – CCSP - São Paulo, 2010.
Fotografia: Ines Correa

A Tentativa de Salvar o Mundo de Júlia Rocha, além de ser um movimento de crítica cultural, pretende uma reflexão, entre outras coisas, sobre a culpa nossa de cada dia. Trata-se de uma dança de ação. Júlia Rocha utiliza diversos elementos para desenhar sua obra. Um deles e que interessa para o Corpo em Imagem é a fotografia nas imagens de Man Ray (1890-1976), fotógrafo, pintor e anarquista norte-americano.

Man Ray foi um dos nomes mais importantes do movimento da década de 1920. Conheceu em 1915 o pintor francês Marcel Duchamp e fundou o grupo dadá nova-iorquino. Em 1921 se envolveu com o movimento surrealista na pintura e produziu filmes com o auxílio de uma técnica chamada solarização pela qual inverte parcialmente os tons da fotografia. As manifestações dos grupos dada são pautadas pelo desejo do choque e do escândalo, procedimento típico de vanguarda.

Diversas representações aconteceram. Trago aqui em fotografia a primeira imagem que o público encontrou ao entrar no espaço (acima). Corpos de 13 bailarinos descalços e despidos ao longo de uma passagem estreita do Centro Cultural. E a última, que permaneceu até depois da saída dos convidados (abaixo), inspirada na fotografia de Man Ray, Nude woman praying buttock hands back, de 1930, que vou traduzir como Mulher nua rezando, mãos para trás nas nádegas.

Tentativa de Salvar o Mundo

Posição do corpo baseada na imagem do fotógrafo Man Ray, de 1930,
Nude woman praying buttock hands back.
CCSP – São Paulo, 2010.
Fotografia: Ines Correa

Se houve choque ou não? Mesmo utilizando como referência o dadaísmo, um dos movimentos mais radicais de contestação de valores, difícil está no século XXI provocar qualquer alteração numa sociedade que encontra-se estagnada, absolutamente morna, monótona, sem sabor. Mas nunca sabemos ao certo o que povoa a cabeça de cada pessoa, nem aos menos se realmente há indiferença ou se dentro, lá no fundo, tudo o que está diante dos olhos incita algo. Enfim, todo movimento ou ação tem sua validade. É preciso perseverar.

SAIA DE CASA – CULTURA PARA O CORPO

HOJE, 19 hrs
TENTATIVA DE SALVAR O MUNDO, com Júlia Rocha

Onde: Centro Cultural São Paulo
Rua Vergueiro, 1000 – Paraíso
(perto da Estação Vergueiro do Metrô)

Um comentário:

Alessandra Safra disse...

Eu adorei seu trabalho.
posso usar suas fotos [devidamente nominal + link do seu blog] nos textos do meu blog?


tenho um texto que converge para seu estilo tbm.
o corpo em verbo é meu foco.
seu corpo é imagem.
adorei mesmo seu trabalho.
bjs

O espanto do corpo nu
Ale Safra


Esconder os sexos: duro e molhado
Cobrir o corpo sempre o desejo de cobrir um corpo
E se mostrar? atentado de um pudor dementedoente
De onde vem essa vergonha do corpo? de esconder o corpo?
Um seio é um seio e um pau é um pau e uma joia indiscreta se cobre em pelos
É tudo pele em vários tons. Sexo, língua, suor, encaixes, sons e temores da imaginação?
vergonha do gozo: proibir gera loucuras
normas, regras, moral
desmistificar o cuerpo nu
desmistificar o pau no cu
para salvar as árvores

tudo está
num outro nível
no qual despir
é a chave para penetrar