quinta-feira, agosto 05, 2010

CORPO PREDADOR


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As galinhas da dona Olga são criadas soltas na Chácara Santana
Fartura, julho de 2010
Fotos: Ines Correa

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  Seu Antonio escolhe o animal que vai inteiro para a panela
depois de depenado, limpo, da retirada das luvas e de sapecado.
Fartura, julho de 2010
Fotos: Ines Correa

O Corpo em Imagem acompanhou o trabalho das profissionais de gastronomia Ana Soares, do Mesa III, Mara Salles, do Tordesilhas e Neide Rigo, do Come-se, amiga de muitos tempos. Elas foram procurar conhecer de perto a situação das galinhas e frangos, saber como são alimentados e como vivem, como são vendidos antes de se transformarem em alimento.

Observaram desde granjas como a Korin até galinhas que vivem soltas e se transformam em comida para consumo do próprio criador, como é o caso das galinhas de Olga dos Santos Rigo e de Antonio Santana Rigo, pais da Neide, moradores da Chácara Santana, em Fartura, interior de São Paulo. A Korin é a empresa mais nova no mercado de frangos e apresenta para o consumidor a opção de um frango orgânico. Mantém um programa de investimento em pesquisas para desenvolvimento da Agricultura Natural em parceria com o Centro de Pesquisa Mokiti Okada. Para quem não quer sair de casa, possui delivery.

KORIN 

KORIN
KORIN
Cilo de milho para alimentar as galinhas, franguinhos sendo alimentadas
e já maiores em caixas indo para o abate, na Korin
Interior de São Paulo, julho de 2010
Fotos: Ines Correa


Das diversas partes do animal, internas e externas, vários pratos foram degustados. Ana, Mara e equipe (não posso deixar de citar Andreza e Dani), são tão deliciosas de conviver quanto Neide. Somamos amizades. Certamente elas não cabem em um só post. Então, desculpem se a “panela transbordar”. Porque, como diria Ana: “é muito assunto!”.

Cozinha sem vergonha – galinha de cabo a rabo foi o resultado da pesquisa que apresentaram no último dia 31 de julho no Paladar, evento que aconteceu no Hyatt Hotel, em São Paulo. Foram mostradas no evento o frango e todos seus órgãos, os ovos, diferentes e possíveis pratos com partes que vão da cabeça até os pés.


Paladar: Cozinha sem Vergonha_galinha de cabo a rabo
Retrato em Preto e Branco
Ana Soares, Mesa III, Nina Horta, colunista de gastronomia da Folha de São Paulo
Neide Rigo, do Come-se e Mara Salles, do Tordesilhas
São Paulo, Julho de 2010
Foto: Ines Correa

MUITAS PERGUNTAS
O HOMEM, UM PREDADOR REPULSIVO OU COMPULSIVO?

O interesse do Corpo em Imagem no assunto é simples. Cozinha sem vergonha leva a refletir sobre o homem e o alimento, o corpo que come e o corpo que é comido. O corpo, a pessoa, o homem, também conhecido como ser humano é um animal onívoro. Se alimenta de produtos de origem vegetal e animal. Ou seja, o homem é um predador. Mata e come outros animais como qualquer animal. Deduzimos que somos animais?!

Nosso corpo come. Mas este mesmo homem ou animal que mata outro animal para se alimentar nem sempre come todas as partes dele. Nós seres humanos olhamos alguns trechos do outro com repulsa (de nós mesmos também, mas não é sobre isso que vamos falar). Nós homens desenvolvidos, que comemos com garfo e faca, somos compulsivos comedores de carne? Ou repulsivos? Nos achamos maiores e melhores quando escolhemos somente algumas partes e eliminamos o que chamamos resto para tentar disfarçar nossa própria condição de predadores? Tiramos a cabeça dos animais para tentar disfarçar nossa condição?


Paladar: Cozinha sem Vergonha_galinha de cabo a rabo
Corpos de frango com todos os pedaços expostos
apresentados aos convidados após a abertura da oficina.
Paladar, Julho de 2010.
Foto: Ines Correa


A GALINHA TAMBÉM ESTÁ USANDO SILICONE?


Ana, Mara e Neide encararam sem vergonha o homem predador e apresentaram uma cozinha farta de pratos estéticamente perfeitos e de sabores diversos. Cozinha sem vergonha - galinha de cabo a rabo foi a maneira que encontraram de “levantar a lebre”, quer dizer, tocar num assunto que leva a muitas perguntas.

Entre elas a pergunta de como a indústria de alimento está fazendo para levar para as prateleiras dos supermercados uma infinidade de bandejas de peito, coxa, sobrecoxa e coração de frango, pedaços mais procurados pelos consumidores.

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A galinha caipira tem menos carne, é mais ossuda e muito saborosa
Fartura, julho de 2010
Foto: Ines Correa

Desta, outra pergunta podemos fazer: Como tem tanto peito no mercado, a parte nobre, o filé? Você já notou o quanto se come de peito? E já observou como o peito dos frangos de hoje em dia são enormes? Será que as galinhas ou frangos (como são chamados no prato) também estão apelando para os cirurgiões e começaram a usar silicone nos peitos?

Brincadeiras à parte, outra coisa que Cozinha sem vergonha de Ana, Mara e Neide fez foi nos levar a resgatar na memória os tempos em que nossas mães colocavam na mesa um frango inteiro e cada um comia um pedaço. Lembro bem porque o meu pedaço (a caçula), era o pescoço, que lambia e chupava com prazer.

Neide Rigo, a nutricionista do trio, escreve no blog Come-se em Paladar – Cozinha do Brasil. A aula das galinhas: “a maioria de nós não precisa de mais de cem gramas de carne por dia, ainda mais se incluir no cardápio arroz e feijão. Então, se aproveitarmos todas as partes, uma galinha chega a alimentar 10 pessoas”.

QUEM É RESPONSÁVEL PELO EXCESSO DE CONSUMO DE CARNE ANIMAL?

Outro papo (papo é coisa de galinha) surge. Será que estamos comendo até 100 gramas de carne por dia ou muito mais? Adianta só responsabilizar a indústria de alimentos? Se ela existe para gerar uma quantidade maior de comida é porque estamos consumindo mais do que o necessário? Existem diversas pesquisas no mercado que apontam o aumento de consumo de carne animal por nós humanos. A indústria corre para satisfazer a demanda? Quem nasceu primeiro a indústria ou a demanda, a velha pergunta, o ovo ou a galinha?

O número de granjas aumenta. Nem vou falar da carne de boi que precisaria de uma boiada pra entrar nessa briga. O problema afinal aonde está? O homem hoje além de predador é um consumista incorrigível! Ele não come só o que seu corpo precisa? Come compulsivamente? O responsável é a indústria, a propaganda e a indústria do consumo? Ou cada um de nós que perdeu totalmente a noção e o bom senso?

KORIN
Galinhas limpas e depenadas na Korin
Interior de São Paulo, Julho de 2010
Foto: Ines Correa

Ainda com relação ao excesso de carne consumida, a Cozinha sem vergonha de Ana, Mara e Neide debateu o assunto não em palavras mas no resultado dos pratos. Além da preocupação de fazerem pratos com todos os pedaços da galinha, elas mostraram a afinidade da carne da galinha com outros alimentos, como vegetais, massas e muito mais. E cada prato tinha um nome sugestivo que ia desde “Pimenta no Rabicó” a “Angú coroado” (feito com a crista da galinha e angú de milho), “Chouriça no gogó” (embutido do sangue), “Balas Perdidas” e “Pérulitos” (de pé de galinha), “Feijoada de rolo” (colágeno de pé de galinha e feijão de corda). Se você quiser ver fotos de outros pratos clique aqui.

Paladar: Cozinha sem Vergonha_galinha de cabo a rabo 

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Ines Correa_pimenta no rabicó_080710_8808w

Ines Correa_feijoada de rolo_9457w
Alguns dos pratos degustados:
Sangue Frio, Angú Coroado, Pimenta no Rabicó e Feijoada de Rolo
São Paulo, Julho de 2010
Fotos: Ines Correa


Paladar: Cozinha sem Vergonha_galinha de cabo a rabo
Pérulitos (pés de galinha) distribuídos aos participantes do Paladar
São Paulo, Julho de 2010
Foto: Ines Correa

Cozinha sem vergonha apontou questões sobre alimentos com franqueza e elegância, deixou os convidados de papo cheio e terminou de maneira totalmente inusitada com a entrada de um garoto gritando: “pérulitos!”. Ana, Mara e Neide neste momento conseguiram levantar a platéia e aproveitaram para “jogar a peteca” para os participantes, petecas caipiras feitas de pena de galinha de verdade e palha de milho. Todos saíram carregando também titica de galinha e um potinho com coxinha de galinha na farofa para viagem.

Como escrevi no começo “é muito assunto!”. Assunto que gera imagem fotográfica. Tantas imagens resutaram em dois vídeos apresentados no evento, um slowvídeo e outro fastvídeo, editados por Ines Correa e Leda Pasta, grande amiga e editora-executiva do SP1, Rede Globo. Para conhecer as duas versões sobre o mesmo tema, clique em fast (vídeo de 2 minutos) e slow (vídeo de 6 minutos). Estão postados no youtube e no site do Paladar-Estadão. Ou veja abaixo:
 
Video de 2 minutos
Edição: Leda Pasta
Imagens: Ines Correa, Neide Rigo e Veronika Paulics

Video de 6 minutos
Edição: Ines Correa
Imagens: Ines Correa, Júlia Bulhões, Neide Rigo e Veronika Paulics


Mais informações sobre o evento no site do Paladar e as receitas e muito mais estão no Come-se.

6 comentários:

Gilda disse...

Inês, isto está uma jóia. Parabéns.

Inês Correa disse...

Oi Gilda, obrigada. Volte sempre que puder. Abraço

Anônimo disse...

Fiz comentário e não foi postado. : (

Inês Correa disse...

Olá anônimo(a), como vai? Se seu comentário não foi postado provavelmente não foi enviado corretamente, ok? Tente novamente quando quiser. E se puder, por favor deixe seu nome também para sabermos quem é voce. Obrigada.

Anônimo disse...

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Inês Correa disse...

You are welcome! It is a pleasure to exchange ideas.