quarta-feira, novembro 10, 2010

DIVERSIDADE DA IMAGEM



Se meu corpo não é como o seu, nem minha roupa, meu cabelo, o jeito que olho e falo, a maneira como interpreto. Pode ser que não tenha nos últimos tempos encontrado a companhia da "telinha" na minha sala de estar. Ou eu ou você. Uma de nós não encontrou.

No sentido comum do uso contemporâneo do termo "imagem", imagem, na maioria das vezes, quer dizer imagem da mídia. Martine Joly, em "Introdução à Análise da Imagem" escreve sobre "a imagem invasora, a imagem onipresente, aquela que se critica e que, ao mesmo tempo, faz parte da vida cotidiana de todos". E como faz. Ela constrói um corpo, uma ideia de vida, um sonho. Todo mundo quer ter uma "família margarina" mesmo que isso seja uma imagem criada pela publicidade e muitas vezes fora do alcance. Ninguém para pra pensar que pode ser simplesmente nada saborosa. Todo mundo quer ter um carro do ano. Um corpo jovem. Um cabelo liso. Um olho azul.


Neste sentido a imagem torna-se sinônimo de televisão e publicidade. Mas Martine lembra que de maneira alguma o termo imagem é sinônimo de televisão e explica que a publicidade "encontra-se dentro da televisão" mas também está dentro dos jornais, revistas e nas cidades e que ela não é só e somente só visual. A publicidade pode ser feita por rádio, celular, etc. No entanto, a imagem da mídia é representada principalmente pela televisão e pela publicidade visual. A sua imagem, a minha imagem, a imagem que se quer ter, que todos querem acaba sendo definida, transmitida pela publicidade e pela telinha que entra na casa de cada um e que cada um consome sem pensar nos efeitos colaterais para o corpo e a mente. 


Hoje minha filha falou pra mim que as amigas dela disseram a ela: "Você ficaria linda se fizesse chapinha". "Como assim?", respondi, "você não precisa de chapinha pra ser linda. Já o é. Chapinha está na moda porque vende algum produto. No meu tempo as meninas encaracolavam o cabelo. A mídia determina de um jeito ou de outro pra que as pessoas gastem dinheiro, comprem produtos...". Ela disse, "calma mãe, já entendi.". Eu terminei, "você e suas amigas são bonitas como são. Se quiserem mudar tudo bem, mas não precisam ser todas iguais, barbie girl, ok?".






De volta ao termo imagem como sinônimo de televisão e publicidade isso deve acontecer pelo quanto ela está presente na sala de estar da nossa pessoa. Martine Joly, no entanto, nos lembra um fato que também se aprende mas que está longe do senso comum. A "amálgama imagem = televisão = publicidade mantém um certo número de confusões prejudiciais à própria imagem, à sua utilização e compreensão". E acrescenta que a primeira confusão é incorporar suporte a conteúdo. "A televisão é um meio, a publicidade um conteúdo". Quando você faz uma desenho, uma "tirinha" e publica no jornal o jornal é o suporte, o meio. Simples, não é mesmo? A televisão é um meio que transmite a publicidade. A publicidade é uma mensagem que pode ser usada na televisão, no cinema, no jornal, na revista, etc. 


Se nem meu corpo pensa nem minha mente te encontra pode ser que aquele beijo  que aproveitamos não esteja na imagem daquele anúncio que você viu. Pode ser que tenha vindo de uma cena de cinema ou daquele desenho ou mangá, fotografia talvez. Ou que seja sentido único de dentro de todo o seu intenso no meu ser.  


Martine Joly lembra também de uma segunda confusão que considera ainda pior, mais grave: a confusão entre imagem fixa e animada. E esclarece que realmente quando se considera a imagem contemporânea a imagem da mídia - a televisão e o vídeo - "é esquecer que coexistem, ainda hoje, nas própria mídias, a fotografia, a pintura, o desenho, a gravura, a litografia e todas as espécies de meios de expressão visual que se consideram "imagens". Não sei se é mais grave ou tanto quanto.


Imprescindível a leitura de "Introdução à Análise da Imagem", de Martine Joly, para toda e qualquer pessoa que pretende trabalhar com imagem. Não escrevo isso querendo aqui ser contra a televisão ou o vídeo ou a publicidade. Apenas tento lembrar a mim mesma sobre estes conceitos que nos são ensinados na faculdade de comunicação mas que acabam tomando outras formas, uma vez que o tal senso comum tagarela o tempo todo e congestiona o ouvido porque está presente diariamente na vida de todos nós. Precisamos ler para repensar os conceitos. Ir para a prática, voltar para a teoria. Pensar em como esta "imagem" entra, impregna, penetra nossos corpos, nos levando a tentar apresentar um padrão exibido nas imagens que acabamos por considerar único, como é o caso da televisão e da publicidade.

3.
Piracaia-SP, 2010
Fotos: Inês Correa



Naquele dia o meu corpo encontrou o seu em outra imagem gravada no sofá da sua sala e talvez para seu corpo nem o meu fosse real. Nenhuma resposta precisa de corpo teria o seu no meu e o meu n seu. Desnecessário se fazia entre os toques de prazeres que iam além do querer ser ou não ser a sua real ou minha imagem imaginária.


Martine Joly vai mais longe quando diz que "confundir imagem contemporânea e imagem da mídia, imagem da mídia e televisão e publicidade, é não apenas negar a diversidade das imagens contemporâneas como também ativar uma amnésia e uma cegueira, tão prejudiciais quanto inúteis, para a compreensão da imagem". Uau, amei isso. Quando colocamos cada coisa em seu lugar, nos distanciamos e começamos a olhar para o mundo como um todo e percebemos como ele está ficando insano, igual. Não tem como ser assim. Sou diferente de você, como posso querer mostrar a sua imagem em mim? O mundo se transformou numa telinha, como uma forminha!


A televisão sugere a imagem que voce deveria querer para sua empresa, a imagem do homem, a imagem da mulher no seu corpo, no meu. Fala-se em estudar a imagem de alguma coisa, em construir uma imagem de alguém, de um político, de um ator. Mas ao fazer qualquer tipo de uso do termo ou construir é importante lembrar das imagens oferecidas, a diversidade delas, em documentários, fotografia, dança, teatro, gravuras e desenhos. Vamos ver além. Podemos ver que a imagem sempre existiu e desenhou o mundo desde o início: nas paredes das cavernas, as religiões falam em imagem,. As pinturas em imagens de diversos tempos.


Pensar em qualquer imagem, escolher uma imagem traria uma outra imagem, não esta "engessada" que aí está e sim uma imagem livre, singular, que atreveria a considerar fértil.

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