sábado, março 12, 2011

CORPO ORGÂNICO GEOGRÁFICO

Mapa recortado em folha de jardim.
Atibaia, 2011
Foto: Inês Correa

Neste dia, neste jardim, neste momento, lá no escuro, bem lá embaixo a folha recortada pelo inseto, pode ser uma formiga, olhou pra mim. Olhei para ela e comecei a pensar no que Roland Barthes chama de "o ter-estado-lá das coisas". No meu ter estado lá. No ter estado lá daquele inseto que desenhou aquele mapa recortado com seus pequenos "dentes". Pensei se havia alguma analogia entre aquele desenho recortado como se fosse com tesoura por uma criança que estivesse aprendendo a recortar o mapa de um país. Não tive como não ver naquele recorte o mapa do país onde vivo, ainda vivo, o inseto, a formiga não sei se vive. Ela passou por ali e recortou. Passei por ali e recortei também do meio de tantas outras folhagens o recorte que ela deixou. Será algo assim o "ter-estado-lá" de alguma coisa, de muitas coisas?

Pulei do "ter-estado-lá das coisas" e das minhas analogias, talvez somente para mim aconteça alguma analogia, alguma relação entre aquela geografia da minha infância e a da formiga. Fui buscar a expressão da imagem largada, rasgada naquela folha de jardim por ela para mim. 

Achei curioso como tudo aconteceu. Foi o que me levou ao "ter-estado-lá das coisas". Estava na rede lendo e relendo o livro A Imagem, de Jacques Aumont. Saí da rede do livro que estava lendo. Fui passear no jardim e tropecei em Barthes, ao menos achei que sim, no que ele diz sobre "o ter-estado-lá das coisas". Quando voltei pra leitura entrei em discussões sobre analogia das imagens e depois caí no capítulo sobre A imagem expressiva.  

Primeiro Aumont fala sobre a etimologia da palavra. Segundo ele, expressão, "indica bem que se trata de espremer, de forçar algo a sair, como se espreme o suco de laranja". Será que estava espremendo, forçando a sair daquele desenho de inseto uma analogia ao mapa do Brasil que me remetia ao "ter-estado-lá das coisas"?

Claro que ele, Aumont, vai além do que fui, do que vou, quando diz que "o problema está em saber o que é esse algo, de onde sai para ir aonde", este algo que se espreme, o que é a tal da expressão?

Pulo pra cá e me pergunto pra que tanta discussão numa imagem assim tão simples, tão despretenciosa? Será que não é querer tirar leite de pedra? Expressar no vazio? Não cabe a mim nada, só o que fiz aqui foi tirar lá de dentro do meio das folhas o desenho que o inseto deixou registrado. Registrei o registro já feito. Se há analogia alguma, não sei. Se há expressão na obra, não sei. 

Continuei a leitura do livro. Aumont diz, mais na frente que "é expressiva a obra que induz certo estado emocional em seu destinatário". Percebi que não cabe a mim responder a qualquer pergunta, cabe a quem vê, quem lê. Se Aumont estiver certo. Provavelmente a expressão pode tomar rumos diferentes, dependendo de quem está fazendo a leitura.


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4 comentários:

Daliana Pacuraru disse...

Great ideas ,images , subjects and compositions!
My best regards from Romania!

alfonso disse...


· Me gusta esta composición, con un b&P muy dramático

· Saludos

CR & LMA
________________________________
·

Inês Correa disse...

Wind, thanks for coming.

Inês Correa disse...

noco, obrigada pelos termos. vou pensar sobre a composição com atenção.