quinta-feira, junho 28, 2012

A MÃE ABORÍGENE


Encontrei este texto que escrevi em maio de 2011. Interessante ver como vamos mudando, repensando coisas. Mas vou deixar aqui postado como recordação de uma época, de uma busca.


Vivenciando e experimentando a revolução da informática, me sinto como a mãe aborígene sendo apresentada para a foto do filho. Não sei se vejo o que olho. Procuro conceitos em livros, na academia, códigos para entender os dispositivos atuais e a comunicação está neles. Talvez não seja a única da geração da escrita, da linearidade, a voltar no tempo para seguir o tempo. 

O não linear já está impregnado em mim. Escrever um resumo em um único parágrafo para dizer que pretendo pesquisar a contribuição da fotografia de dança porque ela se especializa em registrar o movimento e que no mundo do tempo real talvez haja algo a retirar desta especialização para lidar com as discussões sobre a produção de imagem no mundo digital pode não ser tão fácil para mim como provavelmente será para as novas gerações criadas num ambiente cognitivo “predominantemente audiovisual”. 

Talvez porque a fotografia de certa forma “fragmenta” o movimento que o corpo declara na dança que por sua vez favorece a visão de um corpo que está neste tempo, a narrativa deste corpo pode ser um modo de compreensão deste mundo digital, deste mundo da imagem. Os estudos fragmentaram ao longo de décadas a mídia como uma linguagem única. Cada uma foi visitada individualmente: a visual (luneta, microscópio, fotografia), a escrita (máquina de escrever) e a sonora (telefone, rádio). O diálogo entre elas gerou mídias híbridas: cinema (imagem e som), a imprensa (imagem e texto), a televisão. Até chegar no computador e na tecnologia digital multimidia. 

O corpo esteve presente em todos estes tempos e em constante construção. Cada nova informação modificando, contaminando o “sistema” como um todo. O corpo é o reflexo do seu tempo. No depoimento de João Cabral de Melo Neto: “não sou mais um escritor. Estou cego”. (…) “escrevia quando havia tempo”. (…) “aí fui fazer uma operação no intestino e fiquei cego. Foram 70 dias de uti. Quando acordei não enxergava mais. Meu psiquiatra foi me visitar no hospital e viu que havia uma luz fortíssima sobre meus olhos.eu, inconsciente, não podia meter o braço naquela luz. Queimaram minha retina”. Trata-se de um depoimento que apresenta uma visão da parte sem o todo. A tecnologia sendo usada sem o entendimento da sua multiplicidade. A dança e a fotografia podem ser uma outra maneira. 

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