Encontrei este texto que escrevi em maio de 2011. Interessante ver como vamos mudando, repensando coisas. Mas vou deixar aqui postado como recordação de uma época, de uma busca.
Vivenciando e experimentando a revolução da informática, me sinto como a mãe
aborígene sendo apresentada para a foto do filho. Não sei se vejo o que
olho. Procuro conceitos em livros, na academia, códigos para entender os
dispositivos atuais e a comunicação está neles. Talvez não seja a única da
geração da escrita, da linearidade, a voltar no tempo para seguir o tempo.
O
não linear já está impregnado em mim. Escrever um resumo em um único parágrafo
para dizer que pretendo pesquisar a contribuição da fotografia de dança porque
ela se especializa em registrar o movimento e que no mundo do tempo real talvez
haja algo a retirar desta especialização para lidar com as discussões sobre a
produção de imagem no mundo digital pode não ser tão fácil para mim como
provavelmente será para as novas gerações criadas num ambiente cognitivo
“predominantemente audiovisual”.
Talvez porque a fotografia de certa forma
“fragmenta” o movimento que o corpo declara na dança que por sua vez favorece a
visão de um corpo que está neste tempo, a narrativa deste corpo pode ser um
modo de compreensão deste mundo digital, deste mundo da imagem. Os estudos fragmentaram
ao longo de décadas a mídia como uma linguagem única. Cada uma foi visitada
individualmente: a visual (luneta, microscópio, fotografia), a escrita (máquina
de escrever) e a sonora (telefone, rádio). O diálogo entre elas gerou mídias
híbridas: cinema (imagem e som), a imprensa (imagem e texto), a televisão. Até
chegar no computador e na tecnologia digital multimidia.
O corpo esteve
presente em todos estes tempos e em constante construção. Cada nova informação
modificando, contaminando o “sistema” como um todo. O corpo é o reflexo do seu
tempo. No depoimento de João Cabral de Melo Neto: “não sou mais um
escritor. Estou cego”. (…) “escrevia quando havia tempo”. (…) “aí fui fazer uma
operação no intestino e fiquei cego. Foram 70 dias de uti. Quando acordei não
enxergava mais. Meu psiquiatra foi me visitar no hospital e viu que havia uma
luz fortíssima sobre meus olhos.eu, inconsciente, não podia meter o braço
naquela luz. Queimaram minha retina”. Trata-se de um depoimento que apresenta
uma visão da parte sem o todo. A tecnologia sendo usada sem o entendimento da
sua multiplicidade. A dança e a fotografia podem ser uma outra maneira.
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