sábado, junho 20, 2009

UM MODELO DE CORPO

CORPO IMAGINÁRIO II



Fotografia de Inês Correa 2007 São Paulo - SP


Em princípio a fotografia era muito usada como ferramenta para estudar o corpo humano. Na medicina, por exemplo. Há muitos livros sobre o assunto. E a fotografia ainda é muito utilizada de diversas maneiras. Li outro dia um material muito interessante - pra quem quiser tem uma matéria online - que fala sobre o uso da fotografia pela antropologia: Revista de Antropologia - Quando a fotografia (já) fazia os antropólogos sonharem
: O jornal La Lumière (1851-1860)1 - Étienne Samain - Professor do Programa de Pós-Graduação em Multimeios do Instituto de Artes e Coordenador Científico do Centro de Memória (CMU) Unicamp.

A minha idéia não é estudar o corpo na visão de um médico nem nada nem de um antropólogo porque não o sou. É estudar a utilização do corpo como manifestação da vida. Tem gente que fala que eu tô na contramão. Se for é.

Estudar a imagem como meio de mostrar o corpo, todo tipo de corpo. A dança traz um tipo de corpo e outros.

É falar um pouco sobre o tudo e sobre o nada.

É fazer do olhar fotográfico um instrumento do
imaginário real.

Mas parei para ler a matéria do professor porque o título fala sobre fotografia como sonho de alguém, no caso, dos antropólogos. Aí pensei: será que a fotografia ainda pode ser um sonho? Mesmo hoje com tanta fotografia saindo por todos os lados? Será que a imagem atualmente não é quase um pesadelo?

Sei que é um exagero, eu adoro a era digital. E acho bárbaro todo mundo ter em mãos "o poder clicar". Não estou aqui criticando amadores. Mas as publicações, as revistas nas bancas. É um tal de bunda pra lá e pra cá e muito, muito photoshop...
Um corpo falso, produzido virtualmente.

O corpo das revistas não é mais o meu corpo, o seu corpo. É uma ilusão de um corpo virtual, sem rugas, sem o que é considerado "defeito". Mas o que é o corpo virtual se não - nada? A negação da beleza espontânea da forma humana!?

Um corpo é alguma coisa tátil, visível, sensível. Não é uma massa fria.

A fotografia na publicidade e nos editoriais de revistas são o que não são. E todas iguais. E tantas que acabam por provocar o mesmo cansaço. Mas não são amadores. São profissionais repetindo uma fórmula que vende sem parar. Todo mundo quer ter o corpo igual ao da e do e vai malhar pra tentar ficar igual. Porque meu corpo tem que ser jovem e bombado? A bunda arrebitada? Tudo igual, massificado?

Será que o mundo se esqueceu que sonhar a imagem é imaginar o que pode estar ali naquele corpo ou dentro dele ou o que ele carregou ao longo dos anos, a história dele? A vida dele?

E que a fotografia é muito mais do que um instrumento para ser usado para fazer das pessoas formas humanas sistêmicas?

Na foto cliquei a dançarina de costas e sem que a bunda dela fosse o objeto do foco. Quanto ao seu ou meu desejo. Todo mundo que quiser pode desejar. Mas desejo eu que fique por conta da imaginação pensar o que há ali entre as mãos. Fica a idéia, sutil, como um corpo numa silhueta.

Chamei de "Um modelo de corpo" porque podia ser outro. E "Corpo imaginário" porque se vê muito pouco e se faz pensar sobre o corpo e sua beleza sincera. E a fotografia aqui fica sendo um pouco mais a idéia do sonho, do que se poderia ter para ser visto, pode ser?

Não se trata de uma pose nem nada, foi um momento do espetáculo em que ela vira e se coloca na posição que ela achou que deveria. E a ausência da luz no corpo dela deixa o sonho fluir. Você pode olhar e pensar sem ver. O vazio da ausência traz contemplação... Sonho.

Dados Técnicos da Imagem: Tempo de exposição: 1/30s; Abertura: f/2.8; ISO 800; Lente: 200mm

Dados do Espetáculo: Sob o olhar do vento. Thiane Nascimento. Direção: Letícia Sekito Criação e operação de luz: Aline Santini Teatro Coletivo Fábrica. São Paulo, Brasil. 2007

2 comentários:

Introspectors disse...

Que delícia de blog! Minha mãe tbm é uma Corrêa. Beijo beijoooo parenta rs

Inês Correa disse...

Que mundo pequeno, não é mesmo? E que bom que veio conheceer e gostou. Volte. sempre.