sexta-feira, outubro 29, 2010

ALGUM LUGAR





Algum lugar fora do mundo
Sesc Pinheiros. São Paulo, 2010
Fotografias: Inês Correa


Quarta-feira fui ao Sesc Pinheiros fotografar Algum lugar fora do Mundo, Cia. Corpos Nômades. Quando cheguei no 4º subsolo do prédio encontrei um cenário com 5 barracas de acampamento. Trata-se de um espetáculo-instalação com formato de acampamento performático. Segundo João Andreazzi, as tendas são relicários e em cada uma delas acontece uma história. A idéia é de que os intérpretes usem elementos da dança, do teatro, da música, da literatura (Rimbaud, Artaud, Baudelaire, Fernando Pessoa e Mallarmé) e do cinema (Buñuel e Cocteau) para dar a sensação de algum lugar fora do mundo.  

A Cia. Corpos Nômades está fazendo 10 anos este ano. Feliz aniversário. Transformar em fotografia os trabalhos dela, ao menos para mim, não é tarefa fácil. Lembro em 2007 quando fotografei Fuga fora do Tempo durante o evento Satyrianas. A luz era sutil e os intérpretes movimentavam-se numa área ampla de forma totalmente inusitada.  Sim, porque existem situações que são percebíveis. Não costuma ser este o caso. Para quem gosta de desafios, como é meu caso, prato cheio.

O Corpoemimagem não pretende analisar a obra do outro mas a maneira como vamos registrá-la em imagem. Ao me deparar com as cinco barracas e ser informada pelo João antes do início da apresentação que cinco histórias aconteceriam simultaneamanete em cada uma das barracas, além de danças do lado de fora tive que definir uma posição, um lugar, um ângulo de visão. Porque na fotografia, como na vida nos deparamos o tempo todo  com escolhas. Escolha do tempo. Escolha da luz. Escolha do ângulo. E há em cada imagem somente uma escolha entre muitas opções de alguma situação sugerida. Escolhi ficar fora dos relicários e apresentar esse plano, essa visão. Não a do lado de dentro. Para sintetizar um vídeo de 3 minutos traz abaixo o plano escolhido e acima algumas imagens.

Bom feriado. Boas eleições. Volto somente na próxima semana.



Vídeo de 3 minutos - um "resíduo" do espetáculo
Edição e imagens: Inês Correa



SAIA DE CASA - CULTURA PARA O CORPO
Quando: 20.10 a 04.11. Quartas e quintas, às 21h


ALGUM LUGAR FORA DO MUNDO

Ficha Técnica

Concepção e Direção: João Andreazzi.
Elenco: Bruna Dias, Fabíola Camargo, Édria Barbieri, Isabella Franceschi, Letícia Moreira, João Andreazzi, Márcio Campos, Murilo de Paula, Norma Gabriel, Ricardo Silva e participação especial, no dia 27/10, de Verônica Mello.
Montagem  Iluminação: Cia. Corpos Nômades
Operação de Luz: Rafaella Fusaro
Trilha Sonora: Vanderlei Lucentini
Cantora voz em off: Thula
Figurino: David Schumaker
Cenário e vídeo: Cia. Corpos Nômades
Agradecimentos Especiais: Silvie Layla,  Suia Legaspe, Lavínia Pannunzio, Adega Olmos, Raquel Centeno, Paulo Simões e Biblioteca Jenny Klabin.

3 comentários:

Leticia Sekito|Companhia Flutuante disse...

OI, querida!
Adoro suas criações!
Gostei do termos "resíduos" da apresentação :0)
Posso adotar também :0)
Beijo e abraço grande!!!
Leticia

Inês Correa disse...

oi letícia, que bom que gosta. quanto ao termo "resíduo" não é meu. o próximo post será sobre ele (tive que viajar e ainda não escrevi). o termo é da chris greiner e li naquele texto que te mostrei quando veio aqui em casa, lembra? Voce vai saber em breve. beijo.prazer ter voce pra trocar ideias

Cia. Corpos Nômades disse...

Olá Inês,

Boa Tarde! Pós eleição, aproveitamos para agradecer sua presença e carinho e por ter nos presenteado com esse maravilhoso "resíduo" do trabalho.
Abaixo um trecho do poema de Carlos Drummond de Andrade entitulado Resíduo. Inclusive ele seria um grande artista para estar em uma das tendas. Beijo Grande.

RESÍDUOS
De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco

Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).

Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco...

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?

Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros...

Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver... de aspirina.
De tudo ficou um pouco...