ASSIM COMO ECONOMIA ESTÁ PARA PÚBLICO
Será que tudo é matemática/lógica pura?
Quando em 87-88 meu pai comprou o primeiro computador, o CP500, para imprimir conectamos a novidade em uma máquina de escrever elétrica (bem sofisticada para a época). Era preciso conhecer uma série de códigos. CTRL+ ALT- ALT+ SHIFT e coisa e tal. No mesmo período eu trabalhava numa empresa onde havia um computador um pouco mais inteligente. Tinha sistema DOS e o editor de texto era um wordstar. Uau! Minha avó diria que era o coqueluche do momento.
De lá pra cá pcs, macs, microsoft, google, twitter, facebook, blá, blá, blá, brigam para concentrar o maior número de pessoas e engordar suas contas bancárias. E que contas! Tanta coisa mudou e tudo o que estiver escrito hoje pode não ser mais o cardápio de amanhã ou do próximo segundo. E vá tentar viver sem tudo isso… Somos consumidores de tecnologia. Poucos conseguem sobreviver sem aderir a toda essa parafernália tecnológica.
Onde está o público?
Mas peraí (uso o termo peraí porque Corpo em Imagem é um blog pessoal, espontâneo, sem amarras). Sentei aqui diante do computador pra escrever sobre o evento que presenciei ontem, o Oxigênio. Lembra quando falei do primeiro encontro aqui? Hoje falarei do segundo. A discussão foi sobre uma questão importante não só para a dança contemporânea mas para todo e qualquer setor: formação de patéia.
Quando se produz alguma coisa é para alguém consumir. Mais ou menos como acontece na cozinha: ninguém prepara um almoço pra jogar no lixo. Alguém vai comer. Mas tem quem goste de jiló e quem não goste de pudim. Em casa toda mãe conhece o gosto do filho e do marido, da mãe e do pai. Mas como saber, num mundo cheio de pessoas diferentes (ainda bem), quem gosta do que? Aonde está o consumidor, o público alvo? Quem é ele, qual o seu perfil ou como ele é de frente mesmo? Como encontrar o dito cujo?
Quando se produz alguma coisa é para alguém consumir. Mais ou menos como acontece na cozinha: ninguém prepara um almoço pra jogar no lixo. Alguém vai comer. Mas tem quem goste de jiló e quem não goste de pudim. Em casa toda mãe conhece o gosto do filho e do marido, da mãe e do pai. Mas como saber, num mundo cheio de pessoas diferentes (ainda bem), quem gosta do que? Aonde está o consumidor, o público alvo? Quem é ele, qual o seu perfil ou como ele é de frente mesmo? Como encontrar o dito cujo?
As empresas que trabalham com tecnologia sabem. As emissoras de televisão sabem. Os publicitários sabem. O setor de alimentos, de cosméticos, de eletro-eletrônicos; as redes de supermercado, etc. Todos reconhecem muito bem seu público. Um exemplo fácil de perceber é quando você entra no Pão de Açúcar: iluminado, organizado, limpo, funcionários bem treinados. Daí você vai fazer compras no Extra: mercadoria jogada no chão, não tem produtos de determinadas marcas, desorganizado, filas no caixa. Incrível, não existe a menor preocupação em educar o público? Cada um no seu quadrado?
Produzir para um público pré-definido
O segundo encontro veio na direção do primeiro. Não dá pra tratar de cultura sem economia e não dá para pensar em economia sem pensar em público. Tres oxigenadores trouxeram experiências: Gabriela Gonçalves, artista da dança e produtora cultural, Adriana Grechi, coreógrafa e coordenadora do estúdio Nave e Amaury Cacciacarro Filho, diretor da Fractal Produção Cultural.
Oxigenadores do segundo encontro.
Adriana Grechi, Amaury Cacciacarro,
André Fonseca e Gabriela Gonçalves.
São Paulo, 2009.
Foto: Inês Correa
Adriana Grechi, Amaury Cacciacarro,
André Fonseca e Gabriela Gonçalves.
São Paulo, 2009.
Foto: Inês Correa
Adriana e Amaury contaram suas experiências com o Teorema e o Festival Contemporâneo de Dança. Gabriela Gonçalves sugeriu ser importante escolher o local mais apropriado para apresentar um trabalho e a necessidade de se trabalhar os entornos. Discutiu a falta de continuidade dos projetos e a relevância da parceria com a educação. Propôs uma divulgação direcionada e usou o termo “produção sem métodos”.
Crise do sistema de produção de consumo gera crise em todos os setores
O que me fez iniciar o texto citando tecnologia da informação e novos meios foi a frase: “produção sem métodos”. Quando ouvi o termo surgiu na cabeça um sistema não linear. Talvez seja a forma de driblar e remontar todos os raciocínios que estão arraigados a tantos anos na organização econômica vigente. Mas o que é organização linear?
Acho que os jovens que nasceram nos anos 90, os nativos do computador, devem saber lidar melhor com isso. Quando cheguei em casa naquela noite e contei pro meu filho sobre o tipo de conversa que havia surgido no segundo encontro ele me falou que eu deveria assistir The Story of Stuff, com Annie Leonard. Dá pra ver legendado em português ou em inglês direto no site. Pra quem ainda não viu, somente 21 minutos e uma explicação bem didática sobre os produtos de consumo, como são feitos, a crise do sistema como um todo, e os limites do sistema atual, o sistema linear. Nada disso é novo mas é sempre bom termos em mente que há muito para mudar e é preciso refazer, redesenhar. Porque o que está aí faz parte de algo que foi criado ao longo dos anos anteriores e que não funciona mais.
Buscando saídas
Buscando saídas
"It’s too complicated to" transferir a lógica do que está gerando a crise mundial - que ao que parece tem a ver com produção e consumo em escala exagerada -, para o setor de produção cultural – cujo problema parece ser produzir e não ser consumido. O vídeo mostra a situação nos EUA, um país cujo povo tem febre de consumo. Aqui no sul existe uma tendência de se espelhar no vizinho do norte e de se despir para ele. O estado mórbido da economia já está na mesa de todos nós brasileiros. Mas o que o brasileiro consome? Futebol? Novela?
Talvez seja o caso de tentar fazer alguma analogia, ver o que é possível aproveitar dos erros e vícios que já estão desencadeando consequencias devastadoras. E observar como esse sistema corrosivo trata a arte e todas as manifestações culturais. Procurar novos rumos. Se negar a trabalhar nos formatos e valores atuais para gerar opções novas. Fazer um movimento contrário. Educar o público que está intoxicado com o caos existente e que deve estar por aí consumindo sei lá o que.
Sem uma união no sentido de provocar mudanças qual será a herança que fica? Mas será que cada um de nós está preparado para mudar? Deixar os padrões e preconceitos de lado e colocar a mão na massa de um jeito diferente do que está aí? Criar novas saídas?
Oxigênio - Segundo Encontro.
São Paulo, 2009
Fotos: Inês Correa
Próximo encontro – 03/11 – tema: jornalismo culturalSão Paulo, 2009
Fotos: Inês Correa
2 comentários:
Oi querida
Gostei demais do texto. Me fez pensar em um montão de coisas...
Por exemplo na falta de respeito que lugares como "essa rede de supermercados" tem com o seu consumidor, aquele que vai alimentar a família (DiniZ)em Bistrôs e transportá-la em jatinhos.
E um dia estava vendo um programa de TV ecologicamente correto que mostrava a empregada da milionária morando em um quarto mofado e úmido.
Depois da cara de constrangimento dos apresentadores do programa entra uma socióloga e diz:
- Por que tratar tão mal quem te trata tão bem?
Nem diga Gina, esse mundinho é muito assim. Nós, ao menos, tentamos ver outras formas de viver melhor e de fazer com que os que estão ao nosso redor vivam também. Beijo.
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