PERFUME DE LARANJA

ARARAQUARA, CIDADE PERFUMADA

Depois de Desconferencia e Um gesto, uma surpresa, a última parte da viagem foi inspirada no aroma da cidade. No final do dia 24.03 quando estava voltando para o hotel percebi que a cidade tinha um perfume adocicado. Perguntei o que era e me responderam: laranja processada, da Cutrale, empresa que vende suco de laranja concentrado para o exterior. “Não é o tempo todo mas é enjoativo”, acrescentaram.

Quando fui dormir não havia mais cheiro algum. Dormi profundamente. Acordei muito cedo, 6h00m, com o mesmo perfume entrando pela janela. Forte. Não era cheiro de café. Corri para a janela e vi a fumaça da Cutrale a todo vapor. Fotografei.

6:03 – Fumaça da Cutrale e odor de laranja
Araraquara, SP, 2010
Fotografia: Ines Correa

Voltei para a cama. Acordei novamente 8 horas, tomei café e pé na estrada. No percurso de volta notei que havia cana-de-açúcar por todos os lados. Como se Araraquara fosse envolta por plantações de cana.

Plantação de cana-de-açúcar

Cana-de-açúcar na beira da estrada

Garapa ou Caldo de cana
Araraquara – SP, 2010
Fotografias: Ines Correa

VENDEDORES DA REGIÃO RETIRADOS DA RODOVIA PRIVATIZADA

Continuei acelerando. Cana e mais cana. Pensei: “e a laranja, aonde está a laranja?”. Bem mais adiante vi um caminhão vendendo laranja. Parei e fui perguntar sobre as plantações de laranja. Apontaram para dentro e percebi que os laranjais ficavam bem escondidos. Quando disse que iria fotografar, imediatamente fui questionada sobre o motivo das fotos. Despois de explicar “fui autorizada” a clicar desde que não mostrasse ninguém porque trabalhavam naquela região, Rodovia Washington Luiz, vendendo laranja há 16 anos e a concessionária havia aberto um processo para que fossem retirados de lá.

Plantação de laranja

Caminhão que vende laranja na beira da estrada

Caminhões estacionados
Proximidades de Araraquara – SP, 2010
Fotografias: Ines Correa

Comprei um saco de laranja de 6 kg por R$ 5,00. Levei para diversos amigos, como sempre faço. É um prazer comprar assim por dois motivos. Um deles é perceber que não fui explorada. O outro é levar para as pessoas.

Aqui em São Paulo existem locais, como o Pão de Açúcar, que algumas frutas são comercializadas em unidade cortada ao meio e descascada por R$ 2,00 ou mais. Havia muito tempo não comprava dos caminhões que vendem, ou melhor, vendiam em diversas estradas. Atualmente eles estão em extinção, assim como muitas coisas que favorecem o consumidor.

Desconheço as leis que regem os contratos das concessionárias mas acredito que o fato de haver uma privatização não deveria significar que a estrada é uma propriedade privada. O trajeto São Paulo-Araraquara tem 13 pedágios e cada carro comum que passa paga R$ 79,20 para chegar ao destino. Já não é suficiente o lucro? Porque retirar do caminho homens e mulheres que moram na região e sustentavam até então suas famílias vendendo produtos ao longo da rodovia?

Do outro lado do arbusto (nas duas margens), plantações imensas de laranja. Foto foi feita durante o percurso numa velocidade de 110 km/h.
Da série Se dirigir, não fotografe. Se não resistir, seja cuidadoso.
Proximidades de Araraquara – SP, 2010
Fotografia: Ines Correa
Outras fotos da série aqui e aqui