quinta-feira, fevereiro 17, 2011

NOTÍCIAS DE CHARLOTTE



Charlotte
São Paulo, 2011
Foto: Inês Correa


Desde o dia 9 de fevereiro quando comecei a notar a presença dela, quase não se moveu. Sua posição intacta chegava a me causar certa... monotonia? Só o que mudava era a história que meu filho contava para minha filha. Um dia ele disse: "Sabia que só as aranhas do sexo feminino fazem teia?". No outro dia: "Júlia, ela está aí provavelmente para ter filhotes!".

A Charlotte? Não se mexia. As pernas bem alongadas e a mesma posição do primeiro retrato que fez para o CORPOEMIMAGEM e que postei:  Retrato de Charlotte

Todas as pessoas que chegam em casa são apresentadas a ela por meus filhos. Estranho. Eles me pediram muitas vezes para ter cachorro ou gato e dizia que não tinha tempo para cuidar, que animais de estimação precisam de companhia. Que não vivem um dia mas uma vida. Que ficam velinhos e doentes. Tem que ser alimentados, lavados. Enfim, nunca dei a eles nenhum animal. A Charlotte foi conquistando um lugar em casa. Pode? 

Passo por ela diariamente. Sinto uma mistura de afeição, medo, excitação. As aranhas invariavelmente me provocam isso. Meus ouvidos se contraem, ouço um zumbido que não é de mosca nem de pernilongo. É mais tátil que auditivo. Arrepia até a parte baixa da orelha, pode chegar a ser sentido nos ombros. Quando tenho que atravessar o caminho onde ela está, passo longe. Encosto na parede pra não correr o risco de "ser fisgada" por sua teia. Meus filhos dão gargalhadas e dizem: "Mãe, você tem medo!?".

Hoje de manhã quando meu filho foi para a escola anunciou da porta: "Mãe, a Charlotte está encolhida!". Fechou a porta e saiu correndo. Não fui olhar, fui tomar banho e depois...  Nossa, a Charlotte, pensei. Será que ela morreu? Ontem choveu tanto. Será que ela está bem?

Estava encolhida mesmo. Tive que mexer na teia. Interferir um pouco para  saber se estava viva. Ela se limitou a abrir as pernas um pouquinho, delicadamente mas de forma ágil. Pude ver que se alimentava de alguma coisa que já não dava mais para saber o que era.

Do mesmo jeito que ela se abriu, se fechou ligeiramente e continuou "chupando" o alimento que foi mudando de forma, ficando esticado.

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